Diário da saudade: dia 01
Como disse Neruda, saudade é a solidão acompanhada. E mesmo longe você está aqui comigo, e eu estou aí com você.
Faz dezenove horas que você entrou no ônibus para passar quinze dias fora. Eu já voltei para a minha casa, da rodoviária, com saudade. Eu não ligo se o jeito que eu falo ou ajo parece que você vai passar cinco anos na Austrália. Saudade é saudade. E para tentar aplacar a saudade e ocupar a minha mente sempre cheia, eu resolvi que, até o dia que você voltar, eu vou escrever um texto por dia de um Diário da Saudade.
Atualizando os leitores, nós estamos juntos faz aproximadamente seis meses, e namoramos oficialmente há duas semanas. Sim, namoramos, monogamicamente, com título, como faziam os antigos fenícios. E, com quinze dias de namoro, ela viajou a trabalho e, como eu já disse três vezes, vai ficar quinze dias fora. E este é o meu Diário da Saudade.
Eu acordei cedo, com sono ainda por ter ido dormir tarde. Abri o celular, vi que você já havia chegado e simplesmente dormi com o celular na mão, ainda com a sua foto. Uma bela imagem para uma comédia romântica clichê, mas foi verdade. Assim que acordei me toquei que hoje é sexta feita e que não vamos nos ver. E que amanhã é sábado e depois domingo e, pela primeira vez desde o dia primeiro de abril, eu não vou te ver em um fim de semana. Então eu decidi que eu não vou fazer nada. Vou jogar videogame, passear com o Loki, ver filmes, séries e é isso. Não quero cair na armadilha de me encher de compromissos para a saudade ser menor. Então eu separei seis livros para ler, quatro séries e uns filmes. E é isso.
Está chovendo e provavelmente ficaríamos em casa vendo TV. Ainda não me acostumei a não poder fazer planos com você pelos próximos dias. Então fui ao mercado e voltei pensando que já ficamos alguns dias sem nos ver, às vezes durante a semana e é claro que eu sinto saudades, mas hoje está pior. Por que se faz “só”, agora vinte e três horas que eu te deixei naquele ônibus? Porque a saudade não tem a ver somente com a ausência, mas também com a presunção de presença. Se você tivesse ido para casa a saudade seria bem menor, porque, 1. Eu poderia pegar meu carro e ir até a sua casa e, 2. Ainda que eu não fizesse isso, eu saberia que eu poderia fazê-lo porque você estaria ali somente há uns quilômetros de distância. Mas com quatro ou cinco estados entre nós a saudade aumenta, porque ela sabe que eu não poderia pegar meu carro e te buscar para jogarmos flíper no shopping ou comermos um doce na padaria.
Mas por hoje é isso. Amanhã pretendo teorizar mais sobre a saudade, agora vou ver um filme e tentar esquecer que você está a milhares de quilômetros de mim. Estou morrendo de saudade, meu amor. Se cuida e vê se me liga de noite porque o Loki quer falar com você. Eu te amo.