Como é que você consegue estar feliz? Digo, fingir tão bem. Eu tentei tapar o buraco que você deixou de todas as maneiras: com muitas mulheres, não funcionou. Tentando te substituir, menos ainda. Faz tempo, se não me falha a memória que sempre me falha, deve fazer mais de um ano e meio. E todo mundo percebe que tem alguma coisa errada, eu não consigo fingir. Mas você sempre fingiu bem. Você sempre foi uma ótima atriz. Fingia que a vida não te tratava mal, fingia que estava tudo bem. Por um tempo fingiu até que estávamos bem. Não me tome por arrogante, por achar que você não conseguiria viver sem mim, mas qualquer um percebe a diferença
Mas é só comparar as fotos de vocês com as nossas pra ver. Nas nossas fotos seu sorriso não era esse sorriso de modelo em entrega de prêmio das suas fotos atuais. Era de alguém que foi pego em flagrante sendo muito feliz. Rindo de uma música idiota no rádio, correndo de praia em praia porque você teve uma ideia maluca de tirar a mesma foto em nada menos que dezesseis praias ao longo de um dia. Aliás, quem mais aceitaria essa ideia maluca como eu aceitei, e se divertiria com você durante todo o caminho? Ninguém. Duvido que ele vai fazer a minha cara de bobo apaixonado quando pedir pra você cantar uma música pra ele – você canta tão bem – e você, pra implicar, começar a tentar cantar mal de propósito, quase recitando bizarramente a letra da música. Vai nas minhas redes sociais, vê esse vídeo. Você não é feliz assim. Eu não sou feliz assim.
Ok, mea culpa, nós não éramos o casal mais feliz do mundo. Não o tempo todo, porque em boa parte do tempo, éramos sim. Como eu nunca havia sido, como você nunca havia sido. Como eu e você ainda não somos. Não sei se você tentou tapar o buraco ou se ele realmente fechou. Não sei se você ainda pensa em mim. Na verdade eu sei que você pensa, mas talvez não do jeito que eu gostaria. Você sempre foi maluca. Em um mundo de gente que se acha imprevisível, você era a imprevisibilidade em pessoa. E eu, o ansioso planejador, nunca soube lidar com isso. Você errava e eu não sabia lidar com seu erro. Eu errava, e você não sabia lidar com meu erro. Mas eu sinto falta da sua imprevisibilidade, da sua espontaneidade, do seu carinho em bater à minha porta pra fazer as pazes depois de uma briga, ou de bater à minha porte depois de um telefonema onde percebeu que eu estava triste.
Eu sinto falta da gente, mas não sinto falta da gente. Tem uma parte que foi bom acabar, mas tem outra que olha, vai ser difícil esquecer. E eu sei que pra você também vai. Ou foi. Como é que você consegue estar feliz, não sem mim, mas sem a gente? Sem a você que você era comigo, sem o eu que eu era com você, sem o “nós” que nós éramos juntos? Você nunca foi de se contentar. Aposto que ainda não é. Podemos até não nos encontrarmos mais, mas uma hora você vai se cansar de viver algo “ok”. O “ok” nunca te agradou. Não você. Você sempre foi de extremos, pra cima e pra baixo. Sempre foi de viver tudo – ou nada – de uma vez só. Você me assustava, eu não sabia lidar. Mas você nunca foi de se contentar. E por mais que tivéssemos os nossos – muitos – problemas, nós nunca fomos “ok”. Nunca nos contentamos. Nunca fomos mais ou menos felizes. Alguns dias por semana éramos o casal mais feliz do mundo. Nos outros, o mais infeliz. Mas nunca tivemos dias mais ou menos. Como os que você tem agora, como os que eu tenho agora. Por falar em agora, e agora? O final não foi tão bonito quando o objeto impossível de ser parada encontrou o objeto impossível de ser movido. Não mesmo. Mas agora o objeto parado está triste, e o que não para, andando a esmo. Deveríamos ter tentado – mais – uma solução para este conflito. Mas desistimos. Eu desisti. Eu não aguentei. Mas eu devia ter tentado. Você tentou me convencer, e eu não me deixei convencer. Mas hoje eu deixaria. Bate na minha porta? Eu prometo que eu choro e te boto no colo, e a gente deita no sofá por uma hora sem falar uma palavra. Você ainda lembra o número do meu apartamento? Eu avisei o porteiro pra deixar você subir direto.
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